sexta-feira, 12 de julho de 2013

O Safado

Heberte chegou atrasado no primeiro dia em seu emprego novo. Por mais que isso causasse má impressão, o fato pareceu não lhe afetar. Subiu até seu andar normalmente e sentou-se em sua baia. Ligou o computador colocou o paletó na cadeira e se levantou para passar no RH.
Tinha de entregar toda a documentação que ainda faltava. Demorou-se um pouco diante da porta da sala. 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mariana


Quando olhei para o meu celular gelei. Vi que era o número do Elvis. Eu tinha marcado de descer para Caraguá para passar o fim de semana com a Elô (mãe do Elvis). Ela queria aproveitar que o filho queria passar o fim de semana em São Paulo e que a Nana havia viajado com os avós paternos. “Será que ele descobriu que estou saindo com a Elô?”. Minha mala já estava no carro. Por muito pouco ele não me pega na estrada.

- Diga, meu. – engrossei a voz, pronto para o que der e vier.

Do outro lado, a voz, no entanto, era de um homem desesperado e não de quem está pronto para briga.

- Cara, me ajuda. Estou numa encrenca. Pega o carro e vem para cá agora.

- Agora? Eu já estava indo dormir.

- Dormir, o cacete, Diego. Eu não te conheço? Você nuca vai dormir antes do dia nascer.

- O quê que você quer Elvis. Desembucha.

- Seguinte. O voo da Paulinha para Miami foi mudado para amanhã. Ela está vindo para cá. Saiu de Guarulhos faz uns cinco minutos. Acontece que eu trouxe a Mari para cá. Lembra dela?

- Porra, velho. Coloca a mina num táxi. O que eu tenho que ver com isso?

- Então. É que ela chapou. Está desmaiada.

- O que você deu para ela?

- Não dei nada, meu. Te juro. Foi só birita. A mina não é acostumada e chapou o coco. Vem cá pega a figurinha e leva para a sua casa. Não leva para a casa dela. Ela disse para a mãe que estava na chácara da prima em Joanópolis. Se ela aparecer breaca em casa vai dar xabu.

- Acontece que eu tenho um compromisso.

- Mentira, seu verme. Você acabou de falar que ia dormir.

- Ok, Elvis.

- Além disso, eu estou ligado que a sua avó só volta em setembro. Coloca a mina no quarto da empregada e deixa lá até ela melhorar.

- Beleza, Elvis. Mas você me deve essa.

- Vem logo, cara. Voa. Mais uma coisa. Não conta nada para minha mãe, que eu disse que não ia descer com ela porque tinha que estudar.

Isso me lembrou que eu tinha que ligar para a Elô e dizer que eu iria chegar atrasado e, possivelmente, não iria mais. Seria nosso primeiro fim de semana inteiro. Ela iria ficar desolada. Voltaríamos a toda história do complexo de idade e tudo mais. Logo agora que estávamos em um estágio muito bom. Ela tinha parado de me considerar um filho (ao menos tinha parado de dizer que eu era como se fosse filho dela).

Falei com ela pelo celular. Tinha acabado de chegar e estava preparando um jantar para me esperar. Como tinha prometido ao Elvis, não contei para ela o que era. E ela percebeu que tinha inventado uma desculpa qualquer. Ela não é de chorar ou reclamar. Mas faz a coisa que eu mais detesto: fica muda. Vai ser dose quebrar o gelo novamente.

Cheguei ao prédio do Elvis, e o porteiro disse que ele tinha me autorizado a colocar o carro na garagem.

- Coloca na vaga da dona Eloísa que ela não volta no fim de semana.

“Coloca na vaga da dona Eloísa” era tudo o que eu não precisava ouvir agora.

Subi e encontrei o Elvis desesperado ajuntando as coisas e jogando bom ar pela casa.

- Cara, vem logo. Ela está aqui. Capotou aqui e acabou de vomitar. Estou dando uma limpada nas coisas.

- Meu, cadê as roupas dela?

- Xi, eu devo ter ajuntado tudo e jogado no cesto de roupa suja. Ela tirou tudo e foi para a piscina nadar nua.

- Onde está o cesto?

- No banheiro.

- Ok.

Fui para o banheiro e comecei a vasculhar o cesto.

- Elvis, qual é a roupa dela?

Nesse momento tocou o interfone. Com certeza era a Paula, namorada do Elvis e filha do seu chefe.

- Cara, não dá mais tempo. A Paulinha está subindo. Leva assim mesmo.

- Como é que eu vou descer com uma mulher pelada pelo elevador?

- Eu não sei e não quero saber. Só sei que você vai.

- E as câmeras?

- Não esquenta que o porteiro é meu chapa. Já está ligado. Vai logo.

Catei a Mari no colo, desacordada e fui para o elevador.

- Esse não, seu burro o de serviço.

Ele mal fechou a porta dos fundos, eu já ouvi a campainha da porta da frente tocar.

- Quem está aí?

- Ninguém.

- Eu ouvi você falando com alguém?

- Deve ser o vizinho.

O elevador chegou. Entrei com a Mari. Apertei S2, onde meu carro estava, rezando para não aparecer ninguém. Dois andares para baixo o elevador parou. Um entregador de pizza entrou de repente e viu que estava com uma garota nua. Ele pediu desculpas e saiu.

- Pode deixar que eu espero o próximo.

- Valeu.

Cheguei à garagem e passei por um casal com um carrinho de compras. Eles ficaram chocados a princípio e depois caíram na risada.

Coloquei a Mari no carro e fui ao porta-malas pegar uma camiseta na minha mala. Se há alguma vantagem em ser gordo é que uma camiseta dá para cobrir uma mulher inteira, e às vezes duas. Deitei o banco prendi o cinto e fui para casa. No caminho, me lembro dela ter dito qualquer coisa sobre o Elvis e pedir para não a levar para casa. Levei-a para minha casa. Coloquei no quarto da empregada. Se vomitar, ao menos não vai ser nas minhas coisas. Cobri com um edredom e encostei a porta. “Quer saber? Eu não vou perder o meu fim de semana por causa dessa figurinha”. Deixei um bilhete dizendo que ela poderia ficar à vontade e tudo mais. Desci entrei no carro e fui encontrar Elô.

Cheguei lá com quatro horas de atraso. Toquei a campainha e a Elô veio me atender enrolada em um cobertor. Os cabelos estavam desgrenhados e a cara era de sono. A tevê estava ligada. De onde eu estava percebi apena que era um filme erótico.

- Achei que você não viesse mais.

- Olha, eu não via a hora de chegar.

Ela bocejou, sorriu e me deu um beijo rápido passando a mão sobre o meu rosto. Parecia feliz. Ela não estava maquiada tinha os cabelos desgrenhados e marcas da almofada no rosto. Mesmo assim, ainda estava linda.

- O que tem debaixo desse cobertor. – perguntei.

- Eu.

- E o que mais.

- Só.

Soltou o cobertor e me mostrou que estava completamente nua. Ela deitou-se sobre ele abriu as pernas e passou a mão sobe a bocetinha.

- Vem. Eu já nem aguento esperar mais.

- Vamos para a cama que no chão, machuca meu joelho.

- Deita você então que eu fico por cima. Não vou aguentar chegar até a cama.

- Você não vai querer KY.

- Não. Olha que coisa louca. Foi você chegar e eu fiquei toda molhadinha. Vem logo que eu estou louca. Esperar você estava me deixando uma cadela no cio.

Nunca pensei que o atraso pudesse ser uma tática para deixar uma mulher com tesão. Me lembrei da história daquele samurai que chegava sempre atrasado aos seus duelos. Era uma tática dele para deixar seus adversários transtornados. Tão transtornados que eles se desconcentravam na hora da luta.

Passei um fim de semana excelente. Elvis me ligou umas duas vezes, mas eu não atendi. Não teria como sair da saia justa que seria esconder dele e da mãe ao mesmo tempo os segredos de ambos. Elô não queria se demorar muito para voltar a São Paulo. Eu concordei porque estava preocupado com a figura no meu apartamento.

Abri a porta do meu apartamento e encontre a figurinha vestida com as roupas da minha avó sentada no sofá da minha sala.

- Desculpa, eu ter pego essas roupas. Mas eu não podia ficar só com aquela camisola.

- Camisola? Não. Aquela era a minha camiseta.

Rimos. Ri principalmente por ela estar vestida como minha avó.

- Oi, eu sou o Diego. O que você comeu?

- Mari.

- Eu já sei.

- Comi o que tinha na sua geladeira.

- Tinha alguma coisa lá?

- Não muita coisa. Alguns queijos, presunto e um frango assado. Os seus pães estavam todos mofados.

- Minha avó sempre falou que esse apartamento é úmido.

- Você mora com a sua avó?

- Sim. A mãe do meu pai.

- E os seus pais?

- Meu pai morreu. Minha mãe mora na fazenda que é da família lá em Poconé no Mato Grosso. Quem administra é o meu irmão. Eu tenho uma irmã que mora em Huston. Perto de Huston, na verdade.

- Por que você está aqui em São Paulo?

- Bom, eu vim para cá estudar filosofia no Mosteiro de São Bento. Mas abandonei.

- Você é formado?

- Sim. Em direito pela Universidade Federal do Mato Grosso. Mas eu nunca exerci a profissão.

- O que você faz da vida.

- Faço muitas coisas. Mas o que você perguntou não foi isso. Você quer saber onde e com o que eu trabalho. Acontece que eu não trabalho.

- Como não?

- Fiz a faculdade porque meu pai queria que eu me formasse. Mas ele morreu, e eu nem quis saber de direito. As fazendas foram divididas em 4 partes. Minha mãe ficou com metade, eu, minha irmã e meu irmão ficamos cada um com um sexto. Meu irmão administra tudo e deposita a minha parte. Ele não gosta que eu me meta nos negócios, sempre brigamos. Aí eu arrumei um jeito de dar o fora e vim para São Paulo. Você é realmente muito bonita, sabia?

- Obrigada.

- Pizza?

- Quero, sim. Deixa eu te pedir uma coisa. Me conta por que eu estou aqui?

Eu já estava com a cabeça cheia de inventar mentiras. O Elvis que me desculpe, mas dessa vez vou ter de contar a verdade. Ela ficou indignada, chamou meu amigo de canalha para baixo. O que ele não deixa de ser. O fato é que o Elvis andou atrás da Mari por um tempão, queria comê-la a todo custo. Na sexta-feira, consegui sair com ela e levá-la para casa. Por conta do caos aéreo, a namorada apareceu do nada em São Paulo quando deveria estar no Chile. O pior é que a menina tinha inventado uma desculpa para a mãe e só poderia voltar amanhã para casa.

- Você tem namorada?

- Tecnicamente, não. Eu saio com uma mulher mais velha. Ela é viúva e tem dois filhos e não quer que saibam do nosso relacionamento.

- Ah! A mãe do Elvis!

Eu sempre fico pensando no infarto do meu pai. Que um dia ele virá me buscar. Se não foi agora, ao menos a data deve ter ficado mais próxima.

- Pô, meu, ela é maior bonita. Linda. Nem parece a idade que tem.

- Eu não disse que era ela.

- Mas é não é?

- Que idade ela tem?

- A mãe do Elvis tem 43.

- Ai, que máximo você come a Dona Elô. Meu sonho quando ficar velha é ficar igual a ela. Linda e elegante. Eu sempre imaginei que ela gostasse do Elvis. Manja essas taras de mãe com filho. Eu achava que ela não tinha namorado porque era maior afins de dar para o filho.

- Bom, eu não disse que era ela.

- Cara! Que demais! Você é meu ídolo. Olha, eu faria a dona Elô fácil! Aquela mulher é um tesão.

- Mari, eu te peço encarecidamente que não toque nesse assunto com ninguém.

- Imagina. Você é meu ídolo.

- É sério.

- Estou falando sério.

- Deixa eu te mostrar umas coisas, então.

- O que?

- São desenhos que fiz nesse fim de semana.

- Cara, que máximo. É a dona Elô.

- Hum-hum.

- Meu, que demais. Ela é linda. Ai, Diego. Faz o meu desenho.

- Você tira a roupa?

- Tiro.

- Toda.

- Não vai ver nada que já não tenha visto.

- Bom, isso lá é verdade.

- Pede a pizza, que eu vou tomar um banho.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Linda Brazil


Minha irmã foi uma das mulheres mais bonitas que conheci na vida. Quem me conhece se assusta pelo fato de eu ter uma irmã. É verdade que eu nunca falo dela. Na nossa família, a única pessoa que tem mais contato com ela é minha avó por parte de mãe. Ela não é avó dela, já que é filha do primeiro casamento do meu pai. Mas antes de ir morar nos EUA ela passou uns tempos aqui em São Paulo, morando com a ela e meu avô.
Meu pai ficou viúvo muito cedo. Ele tinha 21 anos e ela tinha apenas um ano e meio. Sem grana, e sem condições de criar a menina, ele a deixou com uma de suas irmãs – ele teve oito no total – e foi tentar a vida no Mato Grosso. Meu pai é de Guarapuava. Nasceu em uma família de dez irmãos (só ele e mais um homem). Era o mais novo. Depois de perder a esposa, ele simplesmente queria sumir daquele lugar. Foi trabalhar como boiadeiro no Mato Grosso. Lá comprou uma fazenda se meteu no negócio de criação de gado e prosperou. Não era rico.
Ele tinha já 33 anos quando conheceu minha mãe. Eu nunca pude entender o que ela viu no meu pai. Apesar de não ser tão bonita como diziam ser a sua primeira mulher, minha mãe tinha seus encantos. Além disso, era uma mocinha de 17 anos, que estudara no colégio Rio Branco em Higienópolis, filha de um farmacêutico que tinha lá suas posses. Acabaram se casando depois de apenas um ano de namoro. Minha mãe largou a vida em São Paulo e se enfiou na fazenda do meu pai.
Ele resolveu que já era hora de buscar sua filha do outro casamento. Fabiana tinha então 13 para 14 anos e entrou em pé de guerra com a minha mãe que era pouco mais velha. Mas acima de tudo, odiava o meu pai. Na tentativa de salvar o casamento, os pais de minha mãe se ofereceram para cuidar da menina aqui em São Paulo. Quando fez dezoito anos, foi fazer um intercâmbio nos EUA e nunca mais voltou.
O meu irmão a procurou anos depois para comprar a parte dela na herança de meu pai. Ela não opôs resistência, já que “não queria nada que viesse de meu pai”. Quando ele morreu, nem fez menção de vir vê-lo. Minha avó diz que ela recebeu a notícia com distanciamento e frieza.
Só a conheci quando viajei aos EUA pela primeira vez. Por recomendação da minha avó, acabei indo encontrá-la na cidade onde morava: St. Petersburg, na Flórida. Com o dinheiro da herança que vendera ao meu irmão. Ela e o marido haviam montado uma loja de calçados esportivos nas proximidades de Lake Pasadena.
No começo foi muito fria comigo. A primeira coisa que me disse foi: “Você se parece com o seu pai, só que mais gordo”. Com o tempo fui quebrando o gelo – muito por iniciativa do marido dela, Marck -, e logo ela percebeu que eu era diferente do restante da família.
Ela me contou que passou pelas piores privações quando morou com minha tia em Guarapuava. Dizia que não passava de uma empregada e apanhava muito. Ela era grata a minha avó por tê-la recebido e por ter tornado possível a sua vinda para os Estados Unidos.
Quando chegou lá, nem quis saber do intercâmbio. Tratou logo de trabalhar. Trabalhou como babá, depois garçonete e depois stripper. Ela tinha um show em que se vestia de passista de escola de samba e tirava a roupa. Seu agente lhe dera o nome de Linda Brazil. O lance deu certo e ela acabou indo para Las Vegas. Lá entre um show e outro conheceu o Marck. Se casaram e quando entrou a grana do meu irmão, mudaram-se para a cidade natal dele para montar seu negócio.
Eu queria desenhá-la vestida como Linda Brazil. “- Mas eu nem tenho mais essa fantasia.” “Pode ser nua, então?”. “Claro, somos irmãos. Qual o probelema?”

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ensaio II


O funeral da professora Formosinha foi o meu primeiro contato com a morte.
A Cada vez em que eu me lembro desta história ele é um pouco diferente. Não me recordo de nada de maneira muito exata, a não ser do algodão nas narinas dela.
Nos tempos de escola, eu era ainda mais fútil do que sou hoje e igualmente irresponsável.
Naquele dia, me levantei como sempre de mais uma insônia, de mais uma noite em que dormira arrastando correntes.
Depois de me levantar sem estar totalmente desperto e passar pelo tradicional processo de deszumbização matinal– banho, café e ovos mexidos –, tomei o rumo da escola.
Eu quase sempre caminhava sozinho. Passava por vários conhecidos que fariam o mesmo caminho que eu. Assim como hoje, eu não suportava nem a mim mesmo. Por isso, os cumprimentava e seguia só. Os amigos nunca me fizeram falta. Só me interessava, naqueles dias, a vida fora de mim – o cinema, as histórias em quadrinho e filmes pornográficos. O mais interessante é que eu já nem achava que a minha vida era de verdade; e se um dia havia sido, deixara de ser quando deixei a fazenda de meu pai para morar na cidade com minha mãe. “Tudo bem, pensava, afinal há pessoas que se negam muito mais do que eu”.
Bom, messe dia a minha caminhada não foi diferente, topei com a mesma galeria de figuras que povoaram aquelas mesmas ruas no dia anterior. Fui tragado por aquele fluxo até a escola. No fim de do caminho, só o mesmo portão cor de chumbo.
Eu não me misturava, mas naquele dia eu parecia mais sem sintonia do que de costume. Alguém me tocou no braço e pediu para eu tirar os fones de ouvido. Sorri de modo repentino, e me virei para encarar a cara da cidadã. Era uma menina loura e muito sardentinha. A cara dela parecia um documento atestando que algo original acontecera naquele lugar onde nunca acontece nada.
- O que aconteceu?
- Morreu a professora Formosinha.
Até que eu soube digerir bem a coisa na minha cabeça. Não me mostrei pesaroso, não mudei de feições, nem disfarcei minha cara de paisagem. Fiquei só com uma dor nos lábios rachados de frio que começaram a doer. Eu não sei bem por que até hoje, mas sangraram muito naquele instante. Senti-me tão ridículo que não pude me conter de meter a boca na manga da camisa e sujá-la.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Priscila


Quando a Stella se casou com o Gerson, ela ainda era virgem e tinha apenas 17 anos. Eu me lembro que no casamento dos dois, eu fui padrinho junto com a irmã da Stella, a Priscila. Ela era apenas uma pirralha de 14 anos que de tão magra parecia subnutrida. Depois do casamento a Pri foi morar na fazenda junto com o meu irmão e a esposa. Como a casa era grande e havia muita fartura um a mais ou a menos nem faria diferença. Acontece que uma menina de 14 anos passa por uma transformação muito rápida. Em questão de dois anos ou menos, aquela coisinha raquítica havia-se convertido em um mulherão. Embora o corpo tivesse mudado, ainda tinha a cabecinha de menina. Tinha bichinhos de pelúcia por todo o quarto. Ela colecionava ursinhos polares.

Como ela era de casa, vivia andando por todos os lados de pijaminhas, shortinhos e biquíni. Ela virou o xodó do meu pai. Ele sempre quisera uma filha, mas a cegonha só entregou macho em casa. Ele sempre trazia um mimo para ela e comprava um monte de presentes. Ainda que tivesse os pais vivos e presentes, ela começou a tratar o meu velho por um carinhoso “papaizinho”. Vivia grudada nele: papaizinho para lá, papaizinho para cá, etc.
Eu já havia visto a Pri no colo do meu pai inúmeras vezes. Ela e ele aliás não faziam a menor cerimônia disso, mas algumas vezes era constrangedor ver aquela mulher deliciosa com seu microbiquíni no colo do velho.Quem começou a se incomodar com isso foi a Stella. Que vez ou outra lançava olhares fulminantes contra a irmã. Naquela casa, éramos os únicos que estudavam. Apesar de não ser habilitado e menor de idade eu já dirigia (isso não faz a menor diferença em Poconé). Ela sempre ia e voltava comigo da escola.

Quando entrei na UFMT e me mudei para Campo Grande, meu pai se ofereceu para levá-la à escola. Um dia, o pai verdadeiro passando pela escola decidiu esperar pela filha, que não apareceu. Ao perguntar pela menina para as amigas, disseram que ela não aparecia há um bom tempo. Ele conversou com a diretora, que por incrível que pareça contrariou as colegas dizendo que ela comparecia todos os dias. Ele ligou na minha casa para conversar com ela. Ao perguntar como ia a escola, ela respondera um “tudo bem” que não o convencera. Montou guarda na porta da escola e não viu a caminhonete do meu pai parar lá para deixá-la. Ligou na fazenda e falou com a Stella, que confirmou que ela havia saído com o meu pai de manhã como faz todos os dias. E que meu pai não voltara ainda. Assim, ele foi para a fazenda esperá-la e aproveitar para visitar a filha grávida. Quando a caminhonete do meu pai retornou por volta do meio dia. Lá estavam os dois. Ela passara a manhã na escola e o meu pai ficou na cidade resolvendo uns problemas bancários.

No dia seguinte, seu Nelson (acho que era esse o nome dele) resolveu seguir os dois. A caminhonete nem sequer rumava para a escola virava em sentido contrário e ia para uma casa em um bairro afastado. Na casa, ele pode ver sua filha e meu pai entrando como dois namorados. Ele pulou o muro e tentou ver se conseguia observar dentro da casa. Mas nem foi preciso, dava para ouvir os gemidos de ambos. Eles transavam, tomavam banho e passavam o resto da manhã assistindo tevê nus. Nesse dia, ela ainda fez um showzinho para o meu pai com a escova de cabelos.

Quando abriram a porta da casa, deram de cara com o pai dela. Pode parecer absurdo, mas tudo se resolveu com uma conversa amigável entre os dois. Meu pai pediu desculpas e acabaram colocando uma pedra no assunto. Mas o pior já havia acontecido: ela estava grávida de meu pai.

Para que as coisas, não desandassem muito, eu acabei assumindo a paternidade da criança. Por esse arranjo, ela foi morar comigo em Campo Grande depois que a Laudianne nasceu. Há essa altura meu pai já havia arrumado outra amante e morrido. Me lembro que na ocasião em que foi feito o arranjo, me perguntaram se eu topava. Eu disse que sim, desde que tivesse todas as prerrogativas de um marido sem ter que me casar. Todos concordaram.

Ensaio I

Quando comecei esse blog, pensei que ele pudesse ser uma maneira de mostrar os meus desenhos. Depois, a coisa acabou virando um espaço para expurgar as coisas ruins que fiz e as frustrações que tive. Nunca acreditei em psicanálise. Sou católico e acho que já tenho religião de mais na minha vida. Sempre que vou visitar minha mãe no Mato Grosso, vou com ela fazer as confissões e aproveito para fazer as minhas. Aqui em São Paulo, eu nunca vou a nenhuma igreja, apesar das insistências da minha avó. Ela vai na missa domingo de manhã e depois vai tomar café com as amigas na Benjamim Abrahão. Eu só vou me levantar por volta das 13 horas, sem nenhum ânimo.

Bom, o fato é que todos os valores morais do catolicismo nunca me frearam na hora de fazer alguma putaria e não acho que a psicanálise o faria. Nem sei se contar essas coisas aqui vai fazer alguma diferença. Depois que meu pai morreu, parte dos meus escrúpulos morreram com ele. Eu já contei aqui que ele passou suas últimas horas em um motel com a sua amante 20 anos mais jovem. Minha mãe sabia e sempre fez vistas grossas. Talvez por já estar cansada de tudo, preferisse que meu pai fosse buscar afeto em outro lugar. Afinal, eles mal se beijavam e nunca trocaram carícias. O meu irmão é muito parecido, sempre viveu metido com as suas amantes e prostitutas. A diferença é que, ao contrário da minha mãe, a esposa dele gosta da coisa e se ele não comparece alguém comparece. Eu me lembro que algumas vezes ela mandava recados pare ele com frases do tipo: “Hoje, às 21h eu vou dar! Esteja aqui, então”. Até que eu contasse tudo a ele, o que havia acontecido, ele não havia levado a ameaça a sério.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Stella

A Stella se casou com o meu irmão quando ainda tinha 17 anos. Ela nasceu em Poconé no Mato Grosso, onde conheceu o meu irmão desde pequena. Quando tinha doze anos, ele disse ao meu irmão: “Eu vou casar com você”. Meu irmão é pouco mais de 10 anos mais velho do que ela. Eu sou grato a Stella especialmente pela Melissa, que nasceu um ano antes da morte de meu pai. Ele sempre quis um neto, e o nascimento dela foi um dos últimos grandes momentos de felicidade junto da família. Gerson e Stela se casaram como manda o figurino: em um altar construído na nossa fazenda. Papai mandou matar dois bois para o churrasco e o pai da Stella contratou até banda para tocar ao vivo. Eu estava lá, terninho feito sob medida assando no calor de 40 graus do nosso querido estado do Mato Grosso.

O meu irmão nunca chegou a se formar. A sua trajetória obvia, segundo ele mesmo pensava, era tomar conta dos negócios do nosso pai. Por essa razão desde de cedo foi para o campo com o velho. Minha mãe quis que eu estudasse e eu me graduei em direito pela UFMT. Mas nunca quis saber de exercer a profissão (jamais prestei a prova da OAB). Sempre achei que o meu negócio eram as artes plásticas, por isso vim para São Paulo estudar na Faculdade de Belas Artes, próxima ao apartamento da minha avó. Como minha avó morava sozinha desde o falecimento no meu avô em um apartamento de quatro quartos em Higienópolis, era melhor que eu me instalasse lá. Fiz dois anos de faculdade a abandonei quando o meu pai faleceu. Fiquei em Poconé alguns meses com minha mãe. Mas já sabia que meu lugar era em São Paulo. Dois anos depois o Gerson e a Stella vieram para cá. Eles queriam que a Melissa estudasse em uma boa escola. Além do mais dava para administrar a fazenda daqui mesmo sem muitos problemas. Compraram um apartamento no mesmo prédio da minha avó. Acontece que o Gerson, fora o período em que esteve com a Pâmela, ficava mais no Mato Grosso do que aqui, e a Stella acabava ficando muito sozinha. Acabamos nos tornando grandes amigos eu até passei a freqüentar a piscina do meu prédio, onde ela ia todos dias levar a Melissa. Eu já a tinha visto de biquíni inúmeras vezes e admirava o corpo que ela tinha. Ela era um dessas mulheres de físico formado, que faz academia todos os dias, e está sempre em forma. Corpo de cabocla como a minha avó dizia. Diferentemente do modelo magreza paulistano: Stella tinha carne. Logo apareceram uns urubus que começaram a descer só para vê-la. Um dos mais freqüentes era um garoto de uns 17 anos chamado Bruno. Eles se tornaram mais próximos em um período que eu estava vivendo na balada, trocando o dia pela noite. Já que eu raramente aparecia para fazer companhia, lá estava o tal Bruno na tarefa de diverti-la. Um dia o porteiro deu a fita: “Fica de olho na mulher do teu irmão. Acho que estão passando ele para trás”. “Como é que é?” “É sabe como é. O sujeito não dá assistência, abriu para a concorrência”. “O que você está falando?” “Tem gente aqui no prédio comendo grama no curral alheio. E a vaca também, com todo respeito à sua cunhada”. “O que?” “Olha só, outro dia o zelador viu os dois no vestiário, enquanto o nenê estava lá na piscina. Eu já vi pela câmera umas duas vezes. Mas o camarada é esperto, ele desce pela escada de serviço que lá não tem câmera.” “Como você sabe disso tudo?” “Eu sou porteiro, olha só. E porteiro sabe de tudo o que acontece no prédio”. Na hora, não me deu raiva de ela estar traindo o meu irmão. Meu deu muito ciúmes de aquele Zé Mané estar comendo a gostosa da minha cunhada e não eu.

Bom, o cara estuda de manhã e a Melissa também. À tarde os dois ficam lá na piscina a tarde inteira. Pode ser que se encontrem depois que a Melissa dorme. Como faço para pegar esse cara no flagra? Passei a ficar mais atento: todos os dias o tal Bruno ia para a escola. Pedi ao porteiro para me avisar caso ele voltasse. Do mesmo modo, a Stella levava a Melissa na escola e voltava para casa. Às tardes de ambos eram sempre na piscina quando ela não levava a filha ao shopping. À noite eu e minha avó passamos a montar guarda variávamos. Um dia o porteiro fez mais uma das suas: “Aí, tá vigiando o peixe errado. Não é o peixinho, mas o peixão. O filho fica com a sua cunhada no vestiário. Mas o pai todos os dias finge que sai com o cachorro e vai fazer cachorrada com a tua cunhada, com todo o respeito. Compreendeu”. No Natal, meu irmão dera a maior caixinha que os porteiros do prédio já tinham recebido. Ao que disseram, o cara do 155 não deu um centavo. No Dia seguinte, tocou o interfone: “Vai lá na tua cunhada agora.” Pequei o interfone e liguei. Demorou um tempo até que ela atendesse. Disse que queria dar uma passadinha lá. Ela disse que estava saindo do banho e que era para eu descer daqui uns minutinhos. Voei pela porta dos fundos e desci as escadas em disparada. Depois de alguns minutos a porta se abriu e antes que o pai do Bruno pudesse sair, eu entrei. Ele ainda estava sem camisa e com um yorkshire no colo, ela ainda estava nua. Pedi para que o camarada se retirasse para que pudesse conversar com ela. Ele tentou falar qualquer coisa, mas eu gritei firme e forte: “Sai! Agora!”. Ela ali nua, sem ter com o que se cobrir começou a chorar e soluçar. “Pelo amor de Deus, não conta para o Gerson. Eu faço que você quiser”. “Esse seu amante vem todos os dias?” Quase engasgada ele acabou dizendo que não. “Que dia ele não vem?” “Na terça.” “Tudo bem. Então, terça-feira fica sendo o meu dia, até meu irmão voltar. Ah, e se depila que eu não gosto de xana cabeluda.”