quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Linda Brazil


Minha irmã foi uma das mulheres mais bonitas que conheci na vida. Quem me conhece se assusta pelo fato de eu ter uma irmã. É verdade que eu nunca falo dela. Na nossa família, a única pessoa que tem mais contato com ela é minha avó por parte de mãe. Ela não é avó dela, já que é filha do primeiro casamento do meu pai. Mas antes de ir morar nos EUA ela passou uns tempos aqui em São Paulo, morando com a ela e meu avô.
Meu pai ficou viúvo muito cedo. Ele tinha 21 anos e ela tinha apenas um ano e meio. Sem grana, e sem condições de criar a menina, ele a deixou com uma de suas irmãs – ele teve oito no total – e foi tentar a vida no Mato Grosso. Meu pai é de Guarapuava. Nasceu em uma família de dez irmãos (só ele e mais um homem). Era o mais novo. Depois de perder a esposa, ele simplesmente queria sumir daquele lugar. Foi trabalhar como boiadeiro no Mato Grosso. Lá comprou uma fazenda se meteu no negócio de criação de gado e prosperou. Não era rico.
Ele tinha já 33 anos quando conheceu minha mãe. Eu nunca pude entender o que ela viu no meu pai. Apesar de não ser tão bonita como diziam ser a sua primeira mulher, minha mãe tinha seus encantos. Além disso, era uma mocinha de 17 anos, que estudara no colégio Rio Branco em Higienópolis, filha de um farmacêutico que tinha lá suas posses. Acabaram se casando depois de apenas um ano de namoro. Minha mãe largou a vida em São Paulo e se enfiou na fazenda do meu pai.
Ele resolveu que já era hora de buscar sua filha do outro casamento. Fabiana tinha então 13 para 14 anos e entrou em pé de guerra com a minha mãe que era pouco mais velha. Mas acima de tudo, odiava o meu pai. Na tentativa de salvar o casamento, os pais de minha mãe se ofereceram para cuidar da menina aqui em São Paulo. Quando fez dezoito anos, foi fazer um intercâmbio nos EUA e nunca mais voltou.
O meu irmão a procurou anos depois para comprar a parte dela na herança de meu pai. Ela não opôs resistência, já que “não queria nada que viesse de meu pai”. Quando ele morreu, nem fez menção de vir vê-lo. Minha avó diz que ela recebeu a notícia com distanciamento e frieza.
Só a conheci quando viajei aos EUA pela primeira vez. Por recomendação da minha avó, acabei indo encontrá-la na cidade onde morava: St. Petersburg, na Flórida. Com o dinheiro da herança que vendera ao meu irmão. Ela e o marido haviam montado uma loja de calçados esportivos nas proximidades de Lake Pasadena.
No começo foi muito fria comigo. A primeira coisa que me disse foi: “Você se parece com o seu pai, só que mais gordo”. Com o tempo fui quebrando o gelo – muito por iniciativa do marido dela, Marck -, e logo ela percebeu que eu era diferente do restante da família.
Ela me contou que passou pelas piores privações quando morou com minha tia em Guarapuava. Dizia que não passava de uma empregada e apanhava muito. Ela era grata a minha avó por tê-la recebido e por ter tornado possível a sua vinda para os Estados Unidos.
Quando chegou lá, nem quis saber do intercâmbio. Tratou logo de trabalhar. Trabalhou como babá, depois garçonete e depois stripper. Ela tinha um show em que se vestia de passista de escola de samba e tirava a roupa. Seu agente lhe dera o nome de Linda Brazil. O lance deu certo e ela acabou indo para Las Vegas. Lá entre um show e outro conheceu o Marck. Se casaram e quando entrou a grana do meu irmão, mudaram-se para a cidade natal dele para montar seu negócio.
Eu queria desenhá-la vestida como Linda Brazil. “- Mas eu nem tenho mais essa fantasia.” “Pode ser nua, então?”. “Claro, somos irmãos. Qual o probelema?”

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