segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mariana


Quando olhei para o meu celular gelei. Vi que era o número do Elvis. Eu tinha marcado de descer para Caraguá para passar o fim de semana com a Elô (mãe do Elvis). Ela queria aproveitar que o filho queria passar o fim de semana em São Paulo e que a Nana havia viajado com os avós paternos. “Será que ele descobriu que estou saindo com a Elô?”. Minha mala já estava no carro. Por muito pouco ele não me pega na estrada.

- Diga, meu. – engrossei a voz, pronto para o que der e vier.

Do outro lado, a voz, no entanto, era de um homem desesperado e não de quem está pronto para briga.

- Cara, me ajuda. Estou numa encrenca. Pega o carro e vem para cá agora.

- Agora? Eu já estava indo dormir.

- Dormir, o cacete, Diego. Eu não te conheço? Você nuca vai dormir antes do dia nascer.

- O quê que você quer Elvis. Desembucha.

- Seguinte. O voo da Paulinha para Miami foi mudado para amanhã. Ela está vindo para cá. Saiu de Guarulhos faz uns cinco minutos. Acontece que eu trouxe a Mari para cá. Lembra dela?

- Porra, velho. Coloca a mina num táxi. O que eu tenho que ver com isso?

- Então. É que ela chapou. Está desmaiada.

- O que você deu para ela?

- Não dei nada, meu. Te juro. Foi só birita. A mina não é acostumada e chapou o coco. Vem cá pega a figurinha e leva para a sua casa. Não leva para a casa dela. Ela disse para a mãe que estava na chácara da prima em Joanópolis. Se ela aparecer breaca em casa vai dar xabu.

- Acontece que eu tenho um compromisso.

- Mentira, seu verme. Você acabou de falar que ia dormir.

- Ok, Elvis.

- Além disso, eu estou ligado que a sua avó só volta em setembro. Coloca a mina no quarto da empregada e deixa lá até ela melhorar.

- Beleza, Elvis. Mas você me deve essa.

- Vem logo, cara. Voa. Mais uma coisa. Não conta nada para minha mãe, que eu disse que não ia descer com ela porque tinha que estudar.

Isso me lembrou que eu tinha que ligar para a Elô e dizer que eu iria chegar atrasado e, possivelmente, não iria mais. Seria nosso primeiro fim de semana inteiro. Ela iria ficar desolada. Voltaríamos a toda história do complexo de idade e tudo mais. Logo agora que estávamos em um estágio muito bom. Ela tinha parado de me considerar um filho (ao menos tinha parado de dizer que eu era como se fosse filho dela).

Falei com ela pelo celular. Tinha acabado de chegar e estava preparando um jantar para me esperar. Como tinha prometido ao Elvis, não contei para ela o que era. E ela percebeu que tinha inventado uma desculpa qualquer. Ela não é de chorar ou reclamar. Mas faz a coisa que eu mais detesto: fica muda. Vai ser dose quebrar o gelo novamente.

Cheguei ao prédio do Elvis, e o porteiro disse que ele tinha me autorizado a colocar o carro na garagem.

- Coloca na vaga da dona Eloísa que ela não volta no fim de semana.

“Coloca na vaga da dona Eloísa” era tudo o que eu não precisava ouvir agora.

Subi e encontrei o Elvis desesperado ajuntando as coisas e jogando bom ar pela casa.

- Cara, vem logo. Ela está aqui. Capotou aqui e acabou de vomitar. Estou dando uma limpada nas coisas.

- Meu, cadê as roupas dela?

- Xi, eu devo ter ajuntado tudo e jogado no cesto de roupa suja. Ela tirou tudo e foi para a piscina nadar nua.

- Onde está o cesto?

- No banheiro.

- Ok.

Fui para o banheiro e comecei a vasculhar o cesto.

- Elvis, qual é a roupa dela?

Nesse momento tocou o interfone. Com certeza era a Paula, namorada do Elvis e filha do seu chefe.

- Cara, não dá mais tempo. A Paulinha está subindo. Leva assim mesmo.

- Como é que eu vou descer com uma mulher pelada pelo elevador?

- Eu não sei e não quero saber. Só sei que você vai.

- E as câmeras?

- Não esquenta que o porteiro é meu chapa. Já está ligado. Vai logo.

Catei a Mari no colo, desacordada e fui para o elevador.

- Esse não, seu burro o de serviço.

Ele mal fechou a porta dos fundos, eu já ouvi a campainha da porta da frente tocar.

- Quem está aí?

- Ninguém.

- Eu ouvi você falando com alguém?

- Deve ser o vizinho.

O elevador chegou. Entrei com a Mari. Apertei S2, onde meu carro estava, rezando para não aparecer ninguém. Dois andares para baixo o elevador parou. Um entregador de pizza entrou de repente e viu que estava com uma garota nua. Ele pediu desculpas e saiu.

- Pode deixar que eu espero o próximo.

- Valeu.

Cheguei à garagem e passei por um casal com um carrinho de compras. Eles ficaram chocados a princípio e depois caíram na risada.

Coloquei a Mari no carro e fui ao porta-malas pegar uma camiseta na minha mala. Se há alguma vantagem em ser gordo é que uma camiseta dá para cobrir uma mulher inteira, e às vezes duas. Deitei o banco prendi o cinto e fui para casa. No caminho, me lembro dela ter dito qualquer coisa sobre o Elvis e pedir para não a levar para casa. Levei-a para minha casa. Coloquei no quarto da empregada. Se vomitar, ao menos não vai ser nas minhas coisas. Cobri com um edredom e encostei a porta. “Quer saber? Eu não vou perder o meu fim de semana por causa dessa figurinha”. Deixei um bilhete dizendo que ela poderia ficar à vontade e tudo mais. Desci entrei no carro e fui encontrar Elô.

Cheguei lá com quatro horas de atraso. Toquei a campainha e a Elô veio me atender enrolada em um cobertor. Os cabelos estavam desgrenhados e a cara era de sono. A tevê estava ligada. De onde eu estava percebi apena que era um filme erótico.

- Achei que você não viesse mais.

- Olha, eu não via a hora de chegar.

Ela bocejou, sorriu e me deu um beijo rápido passando a mão sobre o meu rosto. Parecia feliz. Ela não estava maquiada tinha os cabelos desgrenhados e marcas da almofada no rosto. Mesmo assim, ainda estava linda.

- O que tem debaixo desse cobertor. – perguntei.

- Eu.

- E o que mais.

- Só.

Soltou o cobertor e me mostrou que estava completamente nua. Ela deitou-se sobre ele abriu as pernas e passou a mão sobe a bocetinha.

- Vem. Eu já nem aguento esperar mais.

- Vamos para a cama que no chão, machuca meu joelho.

- Deita você então que eu fico por cima. Não vou aguentar chegar até a cama.

- Você não vai querer KY.

- Não. Olha que coisa louca. Foi você chegar e eu fiquei toda molhadinha. Vem logo que eu estou louca. Esperar você estava me deixando uma cadela no cio.

Nunca pensei que o atraso pudesse ser uma tática para deixar uma mulher com tesão. Me lembrei da história daquele samurai que chegava sempre atrasado aos seus duelos. Era uma tática dele para deixar seus adversários transtornados. Tão transtornados que eles se desconcentravam na hora da luta.

Passei um fim de semana excelente. Elvis me ligou umas duas vezes, mas eu não atendi. Não teria como sair da saia justa que seria esconder dele e da mãe ao mesmo tempo os segredos de ambos. Elô não queria se demorar muito para voltar a São Paulo. Eu concordei porque estava preocupado com a figura no meu apartamento.

Abri a porta do meu apartamento e encontre a figurinha vestida com as roupas da minha avó sentada no sofá da minha sala.

- Desculpa, eu ter pego essas roupas. Mas eu não podia ficar só com aquela camisola.

- Camisola? Não. Aquela era a minha camiseta.

Rimos. Ri principalmente por ela estar vestida como minha avó.

- Oi, eu sou o Diego. O que você comeu?

- Mari.

- Eu já sei.

- Comi o que tinha na sua geladeira.

- Tinha alguma coisa lá?

- Não muita coisa. Alguns queijos, presunto e um frango assado. Os seus pães estavam todos mofados.

- Minha avó sempre falou que esse apartamento é úmido.

- Você mora com a sua avó?

- Sim. A mãe do meu pai.

- E os seus pais?

- Meu pai morreu. Minha mãe mora na fazenda que é da família lá em Poconé no Mato Grosso. Quem administra é o meu irmão. Eu tenho uma irmã que mora em Huston. Perto de Huston, na verdade.

- Por que você está aqui em São Paulo?

- Bom, eu vim para cá estudar filosofia no Mosteiro de São Bento. Mas abandonei.

- Você é formado?

- Sim. Em direito pela Universidade Federal do Mato Grosso. Mas eu nunca exerci a profissão.

- O que você faz da vida.

- Faço muitas coisas. Mas o que você perguntou não foi isso. Você quer saber onde e com o que eu trabalho. Acontece que eu não trabalho.

- Como não?

- Fiz a faculdade porque meu pai queria que eu me formasse. Mas ele morreu, e eu nem quis saber de direito. As fazendas foram divididas em 4 partes. Minha mãe ficou com metade, eu, minha irmã e meu irmão ficamos cada um com um sexto. Meu irmão administra tudo e deposita a minha parte. Ele não gosta que eu me meta nos negócios, sempre brigamos. Aí eu arrumei um jeito de dar o fora e vim para São Paulo. Você é realmente muito bonita, sabia?

- Obrigada.

- Pizza?

- Quero, sim. Deixa eu te pedir uma coisa. Me conta por que eu estou aqui?

Eu já estava com a cabeça cheia de inventar mentiras. O Elvis que me desculpe, mas dessa vez vou ter de contar a verdade. Ela ficou indignada, chamou meu amigo de canalha para baixo. O que ele não deixa de ser. O fato é que o Elvis andou atrás da Mari por um tempão, queria comê-la a todo custo. Na sexta-feira, consegui sair com ela e levá-la para casa. Por conta do caos aéreo, a namorada apareceu do nada em São Paulo quando deveria estar no Chile. O pior é que a menina tinha inventado uma desculpa para a mãe e só poderia voltar amanhã para casa.

- Você tem namorada?

- Tecnicamente, não. Eu saio com uma mulher mais velha. Ela é viúva e tem dois filhos e não quer que saibam do nosso relacionamento.

- Ah! A mãe do Elvis!

Eu sempre fico pensando no infarto do meu pai. Que um dia ele virá me buscar. Se não foi agora, ao menos a data deve ter ficado mais próxima.

- Pô, meu, ela é maior bonita. Linda. Nem parece a idade que tem.

- Eu não disse que era ela.

- Mas é não é?

- Que idade ela tem?

- A mãe do Elvis tem 43.

- Ai, que máximo você come a Dona Elô. Meu sonho quando ficar velha é ficar igual a ela. Linda e elegante. Eu sempre imaginei que ela gostasse do Elvis. Manja essas taras de mãe com filho. Eu achava que ela não tinha namorado porque era maior afins de dar para o filho.

- Bom, eu não disse que era ela.

- Cara! Que demais! Você é meu ídolo. Olha, eu faria a dona Elô fácil! Aquela mulher é um tesão.

- Mari, eu te peço encarecidamente que não toque nesse assunto com ninguém.

- Imagina. Você é meu ídolo.

- É sério.

- Estou falando sério.

- Deixa eu te mostrar umas coisas, então.

- O que?

- São desenhos que fiz nesse fim de semana.

- Cara, que máximo. É a dona Elô.

- Hum-hum.

- Meu, que demais. Ela é linda. Ai, Diego. Faz o meu desenho.

- Você tira a roupa?

- Tiro.

- Toda.

- Não vai ver nada que já não tenha visto.

- Bom, isso lá é verdade.

- Pede a pizza, que eu vou tomar um banho.